Um espaço dedicado às minhas presunções e reflexões sobre os mais diversos filmes que eu, viciado em cinema, vi, vejo e verei. Assim, posso tentar estipular um debate bacana sobre o cinema em si.

quarta-feira

Obrigado a falar sobre o referendo

Caros leitores,
Nessa semana só se fala numa coisa: referendo pra lá e para cá. Desarma ou não desarma, comercializa ou não, favor da vida ou a favor dos direitos? Muitos contrastes, sendo que na minha opinião o maior contraste é o referendo contra o próprio Estatuto. Ou então é certo desarmar alguns e deixar as empresas privadas com esse privilégio? O que está por trás disso tudo?
O que não falta é e-mail com receita, nessa louca corrente de opiniões que a internet hj nos impõe. Mas o que falta realmente é usar uma ferramenta tão legal e democrática como uim referendo com coisas muito mais sérias, como a adesão do Brasil ou não à ALCA, ou se devemos realmente pagar essa dívida e(x)terna ou não...
Enfim, então vamos ao cinema....."Tiros em Columbine" marcou época como um documentário forte que contrapõe a cultura armamentista ianque, e é usada de maneira equivocada pelos partidários do sim, pois acho que as armas agem de maneira diferente em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, até porque existe uma grande diferença entre o Poder Público de EUA, Inglaterra com o do Brasil, Peru, Jamaica....vamos lá!
Em tempo: no referendo, eu voto 3, ou seja....NULO!


TIROS EM COLUMBINE - Protesto histérico, porém necessário

Vamos tirar logo do caminho uma série de questões, então: o que Tiros em Columbine faz de francamente errado? Primeiro, ele possui um grave problema: para um filme de "tese", este não parece ter muita certeza de qual é a sua. A argumentação excessiva e frenética de Michael Moore muitas vezes parece estar tentando jogar uma nuvem de fumaça na frente deste simples fato: ele não tem muita certeza do que está tentando dizer. Por causa disso mesmo, tantas vezes ele parece estar chegando a uma conclusão (ou a uma pergunta, o que sempre pode ser mais interessante), e de repente, como o cachorro com seu próprio rabo, ele simplesmente parece perder o foco de atenção, e corre para outro ponto, talvez mais brilhoso ou que faça um som atraente, mas certamente que não é aquele que ele parecia estar perseguindo.
Este é, disparado, o principal "problema" (se vemos a análise por este enfoque) do filme. Mas não é o único. O egocentrismo de Moore também aparece como questão. Sua disposição em tomar a frente de seu próprio filme certamente possui um quê de corajosa, e de francamente confrontadora, mas também possui um orgulho excessivo que seguidamente o coloca "acima" de quem ele entrevista, o que incomoda sempre. Ou, poderia se falar ainda da tendência a institucionalizar os seus entrevistados, quando assim se deseja.
Ou seja, Tiros em Columbine é um filme cheio de defeitos graves, devendo ser ignorado, certo? De forma nenhuma. Porque, cheio de contradições como é, os seus pontos de interesse parecem ganhar ainda mais força. Uma acima de todas: é um filme que precisava ser feito, e o que mais se deve pedir de um filme do que isso? Numa sociedade como a norte-americana, onde as vozes dissonantes são abafadas por uma espécie de "contrato social" democrático e uma crença na sua própria superioridade indiscutível enquanto nação (ao invés de uma ditadura opressora, que automaticamente leva a um aparato de rebelião tão institucionalizado quanto o de repressão), que se eleve um "grito" como o de Moore é essencial. E que seja um grito tão caótico, exagerado e muitas vezes equivocado, parece central. Porque a primeira coisa que se precisa é chamar a atenção, fazer ver com que entre os dois pontos de vista (o dominante e esta "oposição") precisa haver um meio termo possível. Não é tempo de ser ponderado e razoável em sua aproximação, porque não é assim que o "adversário" (sendo o cinema de Moore tão confrontacional, falemos nestes termos, e pensemos no rosto de George W. Bush como encarnação deste conceito) se coloca. Qualquer argumento menos "barulhento" se perderá frente aos gritos deste outro lado. Há momentos de ser ponderado, e este não é um deles.
Outra questão essencial do filme de Moore é ainda mais simples: ele é divertido. Tornar um documentário uma obra "popular" (vamos já usar o conceito ao mesmo tempo que avisamos quão complicado ele é) é extremamente louvável hoje. Chamar a atenção de platéias para a discussão de idéias e da realidade, e fazer com que isso aconteça quase imperceptivelmente enquanto se diverte o espectador, mais ainda. O filme de Moore consegue ter 120 minutos de argumentação pesada, e ainda descer extremamente fácil. Claro, esta facilidade é parte da prova de que seus argumentos de fato não se completam "teoricamente", mas se assim o fizesse também é fato de que ele estaria passando para platéias ínfimas na TV Educativa, e aí cumprindo qual função exatamente?
E o que não se pode negar nunca é que há sequências simplesmente geniais no filme de Moore. O desenho animado que resume a História dos EUA dentro da idéia do medo, por exemplo. Algumas inserções cômicas funcionam perfeitamente (como a menção ao programa de TV "Cops" ou a invasão das casas no Canadá) e algumas entrevistas levantam idéias efetivamente relevantes (como a com Marylin Manson, ou aquela com um procurador americano). Por tantas vezes quanto o filme parece perder o foco, quando ele o encontra suas idéias são instigantes. A questão da cultura do medo nos EUA como forma de dominação social, a fascinação pelas armas e seus reflexos sociais, a leitura do macro (atuação política no mundo) como reflexo do micro (a crueldade das pequenas violências).
Em suma, Michael Moore fez um filme que não se deve ignorar. Que se deve discutir, criticar, defender. Mas, quanto ao qual devemos nos posicionar. Não se pode falar isso de muitos filmes hoje em dia.


Buenas,

Cadu

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Então somos dois, pois tb já havia decidio anular meu voto. Pena que tenho que fazer essa monografia, senão estaria fazendo campanha pelo voto nulo. Tinha que ter até espaço na TV!!!

4:40 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Eu voto 3 também. Maior esculhambação, a lei é mal feita, tem um monte de furo. Isso pra não falar das campanhas podres das frentes parlamentares que não ajudam a esclarecer nada.

7:05 da tarde

 
Blogger Raelma Mousinho said...

anotada sua dica =)
beijos
Rah

8:31 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

OIi, o André me sugeriu então vim conhecer seu blog, muito interessante e achei bem legal as suas palavras!!
Bom fim de semana pra vc e me visite também, será um prazer te receber!!
Bjus e até +

2:13 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

Caduuu! Belíssima resenha! Eu vi o filme e, sabe, eu concordo com vc... um filme que, apesar dos exageros, cumpre seu papel de levar a reflexão ao público em geral... um documentário que tomou ares de popular mesmo!

Gostei daqui! Também adoro cinema, prometo voltar! Quanto ao meu blog, ele passa numa sala de cinema, mas, na tela, somente poesia...

Beijos!!

11:02 da manhã

 

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